Muito amados leitores:
Faço-lhes chegar a presente gravura que tem o título de…
…ALEGORIA DA REDENÇÃO DO HOMEM
O autor desta gravura foi Hieronymus Wierix ─ 1553-1619 ─, segundo o desenho de Ambrosius Francken ─ 1544-1545. Supõe-se que foi publicado em 1578 por Willem Van Haecht, cuja assinatura aparece em cima do texto que acompanha o desenho.

A constituição que aparece desenhada na parte esquerda da gravura e que tem em seu frontispício escrito “Casa das Trevas” ─ Domus Tenebrarum ─ lembra-nos da ilustração que falava da queda do homem. A casa a qual nos estamos referindo assinala claramente a vida desordenada do humanoide racional. Por tal motivo, vemos aí pessoas brigando entre si, mulheres nuas dançando em forma profana, outra mulher com uma flecha na mão alegorizando que pode flechar com os dardos da paixão animal a qualquer homem, outra mulher deitada no leito de Procusto, etc., etc., etc. Essa é a vida ordinária das multidões que tem os dois extremos: o verso e a tumba.
Vemos também a Graça divina ─ sempre acompanhada por um cordeiro ─ tratando de salvar um homem que está no piso perto daquela casa, ou seja, afastando-o da mesma.
Já nas figuras centrais, apreciamos o homem resgatado aparecendo no primeiro plano com sua mão sobre uma pedra triangular. Tal Pedra representa a Verdade, a Pedra dos esplendores, o próprio SER. Lembremos, amigos e amigas, que em uma ocasião o V.M. Samael invocou nos mundos internos a deusa Minerva e, quando se apresentou, ela perguntou:
─ Para que me invocou?
Resposta:
─ Para que me dê sabedoria, ─ contestou o Avatara de Aquário.
Ato seguido, a bendita Minerva desapareceu e em seu lugar ficou flutuando no ambiente circundante uma PEDRA TRIANGULAR. Essa foi a resposta da Deusa.
Porém, poderíamos nos perguntar o que quer dizer essa pedra flutuante. Por que foi essa a resposta da Deusa? Resposta: A verdadeira sabedoria, temos que buscá-la nas três forças primárias da criação ─ o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tais forças se encontram condensadas, sintetizadas, em nossas energias criadoras, e por tal motivo a redenção do homem e da mulher consiste em abandonar a FORNICAÇÃO e se dedicar à transmutação de suas secreções sexuais.
A Pedra tem uma inscrição em latim que diz: In causa et resurrectionem lux, o qual se deve traduzir como: “luz sobre a queda e a ressurreição”… e acrescenta a sílaba XPS, abreviação da palavra Christus.
No lado direito da dita pedra aparece a frase latina Cognitio Dei, que há de traduzir-se como: “Conhecimento de Deus”.
O homem do nosso tema está assistido por duas mulheres. Uma delas é chamada de “Luz da verdade” ─ Lumen Veritatis. Ela leva em sua cabeça uma lâmpada de óleo acesa e em sua mão direita um escudo em que estão escritas umas palavras em latim: Speculum Legis ─ “espelho da Lei”. Não devemos esquecer que somente a Luz da Verdade é o escudo contra o qual não podem as trevas, pois a Verdade é o próprio SER.
A outra mulher representa a Graça divina. Ela tem em sua mão uma folha de palma da qual pende uma coroa, e ao redor de sua cabeça, uma coroa feita de sete estrelas. A coroa que pende da palma é a coroa do triunfo. A palma é o símbolo do triunfo esotérico. Lembremos de Jesus entrando em Jerusalém no domingo de ramos. Não devemos esquecer também que para sermos salvos necessitamos do auxílio da graça divina. A Luz da Verdade aponta ao homem três virtudes divinas ou dons do espírito, simbolizadas por três damas ─ pousadas sobre uma nuvem ─ que se poderiam identificar como esperança, fé e amor.
Acerca da trilogia divina, vemos que voa a pomba do Espírito Santo. O Espírito Santo é o grande revelador, quem vai outorgando ao devoto, à medida que transita pelo Caminho Secreto, as indicações necessárias para não errar no caminho.
O sopro do Espírito Santo entra pela boca do homem central da nossa gravura. Isso significa que a eletricidade do Espírito Santo alimenta aos homens sábios.
Porém, uma dessas três damas sustenta a um menino, o qual não é outro que o menino Cristo, o Salvador Salvandus em cada um de nós. Sem dúvida, essa mulher que porta esse infante é nossa bendita senhora Stella Maris, Devi-Kundalini, Ram IO… O outro menino é João Batista.
Além disso, outra daquelas damas sustenta uma âncora. A âncora é um símbolo maçônico hermético muito arcaico e simboliza a chegada a bom porto.
Uma terceira donzela sustenta em uma de suas mãos um cálice ─ símbolo do yoni sagrado ─ e curiosamente porta uma cruz.
Aquela que representa a Deus Mãe, leva em sua mão esquerda um coração humano acompanhado de uma flama. O coração em chamas são as virtudes da inocência e por isso a mulher tem esses dois filhos.
Toda essa representação tem embaixo textos em holandês, francês e alemão.
Acrescento agora algumas palavras em latim com seus significados:
Na pedra de forma triangular, diz In casum et resurrectionem luz, “Luz sobre a queda e a ressurreição”.
XPS, abreviação de Christus.
Cognitio Dei, “Conhecimento de Deus”.
Homo, “Homem”.
Lumen veritatis, “A Luz da Verdade”.
Gratia, “Graça”.
Em cima no centro, Excitatio hominis, “O despertar do homem”.
Em cima à direita em francês, Le relévement de l'homme, “a ressurreição do homem”.
Dona Spiritus, “Dons do Espírito”.
Domus Tenebrarum, “Casa das trevas”.
O texto em francês antigo situado debaixo da gravura:
“Pource qua vanite de sa propre nature
Tant assuiettie est l’humaine creature
Elle est ─ par et malheur ─ enfāt d’ire et de mort
Mais la grace qui est sa garde et reconfort
En luy donnant de Dieu sincere cognoissance,
Le conduit au chemin d’heureuse repentance
Et le fait relever de son peche vilain,
Embrassant Jesus Christ par l’Esprit souverain”.
Tradução:
“Devido a vaidade de sua própria natureza
É tão satisfeita a criatura humana.
Ela é ─ desafortunadamente ─ filha da ira e da morte.
Mas a Graça que é sua guarda e consolo
como dá um conhecimento sinceiro de Deus,
leva-o ao caminho do feliz arrependimento.
e faz-se libertar de seu malvado pecado,
abraçar Jesus Cristo pelo Espírito soberano.”
Algumas referências bíblicas:
Sirácides ─ Eclesiastes ─, 1 ─ Alabança da sabedoria.
Salmos 26 ─ Declaração de integridade.
Romanos 5 ─ Resultados da justificação.
Romanos 6 ─ Mortos para o pecado.
Romanos 7 ─ Analogia tirada do casamento.
Romanos 8 ─ Vivendo no Espírito.
Romanos 3. Lucas 2 ─ Nascimento de Jesus.
Eu adiciono agora algumas frases interessantes para serem refletidos:
“Os espíritos soberbos são os mais fracos.”
San Agustín
“A ingratidão é filha da soberba.”
Cervantes
“A natureza dos homens soberbos e vis é mostrar-se insolente na prosperidade e abjetos e humildes na adversidade.”
Maquiavelo
“É mais fácil escrever contra a soberba do que vencê-la.”
Maquiavelo
“A soberba é o vício pelo qual os homens desejam as honras que não lhes correspondem.”
Raimundo Lulio
NULLA POENA SINE LEGE.
─ “Nenhuma punição sem lei” ─
KWEN KHAN KHU