Querido leitor/a:
Eu faço chegar, nesta oportunidade, um desenho que aparece em outro livro de emblemas intitulado Selectorum emblematum — “Emblemas selecionados”. Os textos pertencem ao poeta alemão Gabrielis Rollenhagen —1583-1619—, e as gravuras a Crispijn van de Passe e Jan Jansson — 1588-1664.
O título desta gravura é:
…PAVPERTATE PREMOR SUBLEUOR INGENIO
“Sou abatido pela pobreza, e levantado pela inclinação natural”

Nesta gravura, podemos ver, ao centro, um personagem cuja mão direita está acorrentada com um grilhão alado, enquanto a mão esquerda está presa com outro grilhão a uma pedra pesada. Ao fundo, à esquerda, vemos uma espécie de gigante armado encarando um homem menor que o confronta com uma lança, tentando atingi-lo.
Frase em latim:
Ut me pluma levat, sic sarcina praegravat ingens.
Tradução: “Assim como uma pena me levanta, um peso enorme me sobrecarrega.”
Em seguida, aparece outra frase em latim:
Paupertate premor sublevor ingenio.
Tradução: “Sou oprimido pela pobreza, mas aliviado pelo meu talento.”
Qual é a essência desta gravura? O que ela quer nos transmitir?
Primeiramente, vamos nos concentrar no personagem central, que está dividido psíquica e fisicamente entre duas forças: uma alada — a mão direita — e outra muito pesada, representada pela Pedra.
Aqui, queridos amigos, está claramente indicada a nossa dualidade em relação às coisas do espirito. Somos pobres animicamente e, portanto, embora tenhamos anelos que nos são sustentados pelos céus — vejam o grilhão da mão direita —, uma pesada pedra ou laje nos oprime e nos prende à Terra, ou seja, ao materialismo.
Isso está muito presente em nosso cotidiano, e esse fenômeno nos impede de manter a continuidade de propósito. Muitas vezes, o peso do materialismo acaba nos levando a abandonar o caminho e, obviamente, renunciamos à Gnose, o que representa um triunfo do Ego sobre nossa Essência. Raramente nos rebelamos contra esse materialismo petrificante e conseguimos nos libertar desse fardo pesado ou dessa pedra que nos paralisa.
Sobre a frase em latim que nos diz: “Como uma pena me eleva ─ a força do SER ─, mas um fardo pesado me oprime”, isso fica ainda mais claro no verso que é anotado ou acrescentado em francês antigo, vejamos:
Mon esprit est orne des grands dons de Nature,
qui le tirent en haut jusqu´au secret de Dieu,
Mais un poisant fardeau retient en ce bas lieu
ses valeureux dessains, c´est la Pauvreté dure.
Tradução:
“Meu espírito é adornado com os grandes dons da natureza
que o elevam ao segredo de Deus,
Mas a carga pesada retém neste lugar baixo
seus valentes desígnios; é a dura pobreza.”
Certamente, o Pai nos quer com Ele, mas nossos dez mil agregados psicológicos constituem um pesado fardo para esse propósito. Essa é a nossa pobreza de espírito, nossa desgraça moral…
Se não usarmos nossa astúcia, nosso talento, através da AUTO-OBSERVAÇÃO permanente, nunca chegaremos a descobrir nossas fraquezas, que nos impedem de ser assistidos pelas hierarquias solares que tentam nos ajudar e que são mostradas em nossa gravura pela cabeça de um pequeno anjo que aparece através das nuvens do céu.
Ao fundo está a representação de uma batalha semelhante à de Davi e Golias, um de estatura normal e o outro transformado em um gigante — metaforicamente falando. No fim, a habilidade de Davi — usando uma pedra como arma — o derrubou e o derrotou. Obviamente, devemos ver nessa pedra a Pedra Filosofal, nossa arma secreta contra o ego obstinado.
É inquestionável que devemos intensificar nossos anelos dia após dia através das práticas que nossa sagrada doutrina nos brinda. Da mesma forma, a leitura das obras do nosso patriarca irá, cada vez mais, transformando nossas esperanças em fatos concretos relacionados com o nosso DESPERTAR…
Permita-me acrescentar algumas frases oportunas:
“Tenha coragem e fé em si mesmo. Ai de você se tiver medo!”
Séneca
“A audácia dá, às vezes, o fruto que os cálculos mais profundos não podem alcançar.”
Maquiavel
“A audácia adquire-se conhecendo o mundo, e a discrição, conhecendo o homem.”
Ramón Gómez de la Serna
“A astúcia é uma espécie de sagacidade que, por vezes, compensa a falta de verdadeira sagacidade.”
François de La Rochefoucauld
“A virtude é uma linha horizontal, a força é uma linha vertical e a astúcia é uma linha oblíqua.”
José Martí
AD INFINITUM.
─ “Até o infinito” ─
KWEN KHAN KHU