A riqueza permite a estupidez, Raphael Sadeler

“Stvltitiam pativntvr opes” (A riqueza permite a estupidez)

“Stvltitiam pativntvr opes” (A riqueza permite a estupidez) 850 480 V.M. Kwen Khan Khu

Amados leitores:

Tenho o maior prazer em enviar-lhes esta gravura intitulada…

…STVLTITIAM PATIVNTVR OPES.
─ “A riqueza permite a estupidez” ─

A riqueza permite a estupidez, Raphael Sadeler

Essa gravura pertence ao Museu de Arte de Cleveland, Ohio, Estados Unidos.

Esta gravura é uma representação vívida da decadência da humanidade engolida pela horizontalidade da vida, o que, sem dúvida, implica a entropia mais total que podemos imaginar.

Nas imagens podemos ver um rei, símbolo da classe alta da sociedade, que usa orelhas de burro, indicando com isso que o hábito não faz o monge, ou seja, que o status social não equivale a ter sabedoria. Houve na história da humanidade reis e rainhas que realizaram verdadeiras estupidezes durante sua vida em que desempenharam seu reinado.

Ao redor da nossa tela, vemos uma desordem absoluta que abrange praticamente toda a cena. Sobre uma mesa está um baú aberto cheio de joias e moedas, que o rei em questão está contando como entretenimento, pois a realeza degenerada só tinha tais entretenimentos ligados à acumulação dessas riquezas.

No chão da imagem a desordem continua se manifestando, e por isso vemos jarros, vasos, pratos, etc., etc., jogados e marcados pela mão esquerda do monarca.

Perto do rei, um bobo da corte coloca um chapéu de palhaço semelhante ao seu na cabeça do rei. Isso sugere que nem o rei nem o bobo da corte possuem um nível de ser adequado, pois ambos estão imersos no caos.

Do outro lado da nossa representação artística, vemos a rainha igualmente consumida pela vaidade, segurando um espelho na mão direita, no qual seu rosto parece envelhecido, embora ela se considere muito jovem segundo sua própria percepção — tal é a nossa vaidade. No colo da soberana, vemos um cachorrinho compartilhando seu tempo com os donos, e, próximo a ele, podemos observar um prato relativamente grande sobre o qual repousa uma jarra. A toalha de mesa da pequena mesa que sustenta o prato está completamente desarrumada devido à indiferença de seus donos.

Há duas damas assistindo a soberana. Uma tem um leque à direita e à esquerda um papagaio, símbolo da fofoca de muitas mulheres das diversas classes sociais. A outra tem cabeça de javali, símbolo de sua baixeza, e está servindo comida e bebida. De acordo com alguns comentaristas essas duas mulheres representariam adulação e estupidez, algo muito comum nas chamadas altas esferas

Nesta cena, vemos um macaco no chão, aludindo às maneiras que as pessoas encontram para passar o tempo, identificando-se com as travessuras desses animais. Quando não há qualquer preocupação com o autoconhecimento, passamos as horas de nossa vida contemplando a simplicidade da mesma.

Ao fundo da nossa gravura, vemos um homem magro carregando em suas mãos um prato com o qual pretende mendigar algumas migalhas de comida.Esta tem sido e continua sendo nossa humanidade. Alguns transbordam de dinheiro, com o qual nem sequer sabem o que fazer, enquanto outros vivem em completa miséria, mendigando por todo o lado o essencial: pão, roupa e abrigo.

Na parte inferior direita está escrito em latim: Iodocus a Winge invent, “Joos Van Winghe, 1544-1603,  inventor”, e Raphael sadler fecit et excudit 1588, “Feito e impresso por Raphael Sadeler, o velho, 1561-1628, em 1588”.

Ofereço agora algumas frases para serem refletidas:

“A riqueza da alma é a única riqueza, os outros bens são fecundos em dores.”
Luciano

“É o coração do homem que deve se enriquecer, não seus cofres.”
Cicerón

“O caminho mais curto para a riqueza é desprezar as riquezas.”
Séneca

“Para os ricos é tão difícil adquirir sabedoria quanto para os sábios adquirirem riquezas.”
Epiteto

“Quer ser rico? Então não se esforce para aumentar seus bens, mas sim para diminuir sua cobiça.”
Epicuro

REPETITIO EST MATER STUDIORUM.
─”A repetição é a mãe dos estudos” ─

KWEN KHAN KHU