"Timiditas", O temor

“Timiditas” (O temor)

“Timiditas” (O temor) 850 480 V.M. Kwen Khan Khu

Queridos amigos e amigas leitores/as:

Estamos enviando a gravura que leva por título:

…TIMIDITAS
─ “O temor” ─

"Timiditas", O temor

Faz parte de uma série editada por Raphael Sadeler, 1560-1628, segundo o desenho de Maarten de Vos.

Os dicionários explicam que a palavra TIMIDUS deriva do latim timeo, “temer”, e tās, que indica uma qualidade; portanto, TIMIDITAS significaria “ser medroso, temeroso”.

O tema da nossa gravura, como em outras ocasiões, é feminino, pois a gravura representa uma mulher.

Frase em latim:

Sub dumis latitans, macie confecta senesco,
Exsangues languent venae, est cor pectoris expers,
Ossa tremunt, omnique pauens impellor ab aura:
Friget flamma animi, nec se ratio exerit usquam,
Hinc me Terror agit pauidam Pudor inde retundit,
Et lente adrepens, ferroque innixa lacertos
Segnities, quae non dubiae mihi somnia fingit?
Donec Pauperies rerum obruat omnium egentem.

Tradução: “Escondida sob os arbustos, consumida pela magreza, envelheço, minhas veias sem sangue definham, meu coração está sem ânimo, meus ossos tremem, assustada por tudo, até a brisa me faz estremecer: a chama da minha alma esfria e a razão não está em nenhum lugar. Por isso, o terror me guia em pânico. Então o pudor me refreia e, rastejando lentamente, apoiando meus braços no ferro, a indolência, que fantasias não inventam para mim, que sou duvidosa? Até que a pobreza me oprima, tornando-me necessitada de todas as coisas.

Descrição:

Observando esta gravura, querido/a leitor/a, podemos contemplar quatro imagens de personagens que marcamos em negrito.

Em primeiro lugar, a figura central é uma senhora idosa vestida com roupas muito pobres. O terror é representado pelas duas mulheres à esquerda, que estão fugindo; o pudor, pelas pessoas mais ao fundo, que parecem completamente cobertas porque provavelmente estão rezando. As mulheres à direita representam a indolência. Uma está algemada; a outra caminha apoiada em uma barra de ferro, que na verdade não é uma bengala, mas uma espada que ela usa como tal. Ao fundo, perto de uma igreja, algumas pessoas pobres pedem comida. Elas representam a pobreza.

O que são todas essas coisas, companheiros/as?

Primeiramente, é importante destacar que, na parte central desta gravura, vemos uma anciã com roupas esfarrapadas. Isso representa a natureza humana quando prisioneira do AGREGADO psicológico do MEDO ou do TEMOR.

Esta anciã está cercada por alguns animais, a saber: uma coruja, um corvo, uma lebre, um ouriço e uma salamandra.

A coruja simboliza a AUTO-OBSERVAÇÃO, e o corvo nos convida à morte interior, à morte de nossas fraquezas…

O ouriço representa nossos estados repulsivos e medrosos que, infelizmente, nos acompanham em nossa vida cotidiana.

A salamandra nos mostra nossos constantes medos que nos cercam e a lebre, obviamente, também representa uma forma de nossos medos.

O EU do medo ou do TEMOR é múltiplo em nosso psiquismo e está por trás de cada uma das nossas fraquezas. Vemos, por exemplo:

O Eu da gula sempre come porque tem medo de que um dia poderíamos ficar sem comida ─ suposições.

A luxúria sempre procura saciar-se porque, segundo ela, não devemos perder oportunidades sexuais, e isso nos tornará indolentes e fracos diante dos outros.

A ira sempre nos fará acreditar que não devemos mostrar fraqueza diante de nossos semelhantes.

O orgulho não quer ser deixado em segundo plano; ele sempre vai querer que mostremos nossas capacidades aos outros.

A inveja nos fará acreditar que devemos imitar os outros para garantir um lugar na sociedade.

A cobiça não tem limites e em todos os momentos está justificando necessidades que NÃO EXISTEM.

A preguiça se faz sentir porque, segundo ela, precisamos descansar constantemente para conservar nossas energias, etc., etc., etc.

Poderíamos chegar à seguinte conclusão sobre os dois casais citados acima: o terror nos faz fugir, mas o pudor contém esse ímpeto do medo, a indolência limita na ação, mas tem que parar quando a pobreza, que é consequência da mesma indolência, obriga a agir.

Acrescento algumas frases para reflexão:

“O medo está estampado no rosto.”
Seneca

“O medo é um sentimento mais forte que o amor.”
Plínio, o jovem

“O medo é o mais ignorante, o mais injusto e o mais cruel dos conselheiros.”
Edmund Burke

“O medo está sempre disposto a ver as coisas piores do que são.”
Tito Livio

“Quem vive com medo nunca será livre.”
Cícero

MISEREOR.
─ “Tenho compaixão” ─

KWEN KHAN KHU