Amados leitores/as:
Nesta ocasião, envio-lhe dois emblemas do mesmo livro: Selectorum emblematum, com o texto em latim e francês antigos.

A primeira dessas gravuras é intitulado…
…NESCIT LABI VIRTUS
─”A virtude não sabe cair”─
Isso também pode ser traduzido como “A virtude não pode cair”, ou, um pouco mais livremente, “A virtude não conhece quedas”.
Mais abaixo temos estas outras frases:
Ipsa suis opibus contra omnes fulta ruinas
Virtus non ullo labitur, alma loco.
Significado: “Sustentada por si mesma através de suas obras contra todos os fracassos, a virtude, benigna, não cai em lugar algum”.
Em seguida temos este texto em francês:
Ainsy que toufiours droit se tient la chausse trappe
Ores qu´on la renversse et donne mile tours
Tout ainsy la verttu droicte fe tient tousiours
Soit que l´advesite par tous endroictes la frappe.
TRADUÇÃO: “Assim o cardo sempre se mantém ereto, mesmo que lhe dê mil voltas. Assim também a virtude sempre se mantém reta mesmo que a adversidade a golpeie por todos os lados”.
O que isso tudo significa, paciente leitor ?
É muito curioso destacar que, nesta gravura, a virtude é representada por um triângulo gigante no centro. Este triângulo representa, gnósticamente, as três forças primordiais da criação: Santo Afirmar, Santo Negar e Santo Conciliar.
Nossa Autorrealização não é outra coisa que a encarnação dessas três forças em nossa natureza anímica e física. Este é o nosso propósito pelo qual fomos trazidos à existência. Trata-se, portanto, de encarnar a força do Pai, a força do Filho e a força do Espírito Santo. Indiscutivelmente que não podemos fazer isso da noite para o dia, é um trabalho que deve levar toda a nossa vida até completá-lo, culminando com o qualificativo de A GRANDE OBRA INTERIOR.
Por isso vemos o triângulo de nossa gravura suspenso no ar, cercado por um vento tempestuoso que ameaça fazê-lo cair e se autodestruir. No entanto, como nossa gravura bem diz, quando nossas virtudes estão bem fortalecidas, elas não cedem às tempestades do Ego, nem às adversidades do destino. É óbvio que, para uma virtude ser nutrida com a força necessária, devemos exercitá-la na vida diária por meio da temperança; em outras palavras, suportando todos os tipos de ginásios psicológicos que o labirinto da nossa existência nos traz a cada dia. Quando alguém perde suas virtudes, é porque realmente lhe faltou uma compreensão profunda delas e, portanto, as raízes dessas virtudes não puderam resistir aos contratempos às quais era confrontada no vale da existência.

QUOCUNQUE FERAR
─”Onde quer que seja levado”─
A palavra CUBUS que vemos no centro da imagem claramente significa “CUBO”.
Uma frase latina nos diz:
Non refert, QUOCUNQUE ferar unus et idem
cum similis semper totus ubique mihi.
Tradução: “Não importa, para onde quer que eu seja levado, seguirei sempre o mesmo, pois, onde quer que eu vá, tudo sempre será parecido como eu.”
Outra possível tradução: “Não importa para onde me levem, continuarei sendo o mesmo, pois sou sempre o mesmo e íntegro em todos os lugares.”
A frase em francês antigo nos diz:
L'homme droit, et constant, doue d´une ame pure
ne change point de coeur par les malheureux traits,
comme le det quarre -carré-qui ne tombe jamais
quoy qu´on le gette -jette- au tour, que droit en sa posture.
Tradução: “O homem reto e constante, dotado de uma alma pura, não troca seus sentimentos profundos por características infelizes. Como a obra sólida que nunca cai, aconteça o que acontecer, se mantém reto em sua postura.”
Que mistério nos ensina esta outra gravura, amigos e amigas?
Para começar nosso estudo devemos observar que a figura central de nossa gravura é constituída por UM CUBO que vem dos céus. No lado direito vemos dois personagens que, ajoelhados, oram muito concentrados, enquanto um terceiro personagem os ouve sentado. No lado esquerdo vemos um pastor correndo e atrás dele suas ovelhas. O trio de personagens que oram faz alusão aos irmãos que rezam ao céu para não cair em tentação. Essa é nossa humanidade que, mergulhada em suas impressões terrenas, busca ansiosamente ser ouvida pela divindade.
Por outro lado, o pastor com suas ovelhas foge aterrorizado, temendo o enorme cubo que paira sobre o mundo, isto é, sobre a Terra. Mais ao fundo, vemos uma casa começando a pegar fogo. O que é tudo isso?
Este pastor simboliza a grande quantidade de personagens pseudoespirituais que tentam guiar as sociedades humanas, mas carecem de argumentos sábios e explícitos sobre os problemas do homem e seu desenvolvimento na face de nosso mundo. Total, diante de situações incertas só sabem fazer uma coisa: fugir dos acontecimentos e procurar esconderijos para se refugiar.
A casa que está em chamas simboliza nossa própria sociedade que, afastada das virtudes, acaba sendo vítima de suas próprias iniquidades.
Agora, o cubo representa a PEDRA FILOSOFAL, o próprio SER. Ele é Ele, a divindade que habita em nossas profundezas e que é imune a todas as adversidades que a criação apresenta em qualquer lugar do nosso globo. Por isso, em uma das traduções anteriores nos é dito: “Não importa, onde quer que me levem permanecerei o mesmo, já que sou sempre o mesmo e íntegro em todos os lugares”.
O SER É O SER, queridos/as leitores/as; Ele é quem foi, quem é e quem sempre será por toda a eternidade. O SER É IMUTÁVEL E SEMPRE SERÁ DOTADO DE SUA ONISCIÊNCIA, ONIPOTÊNCIA E OMNIPRESENÇA, jamais esqueçamos disso.
O SER é o Pai de todas as Luzes, e Aquele que sempre tem as chaves do reino dos céus. Ele está presente em todos os reinos da criação, pois é a própria CONSCIÊNCIA da natureza, do universo e do cosmos em geral.
Se O encarnarmos, seremos finalmente parte de sua natureza e Ele nos tornará imunes às quedas próprias das almas fracas.
Vou adicionar agora algumas frases para sua reflexão:
“O agradecimento é a parte principal de um homem bom”.
Quevedo
“O agradecimento é a memória do coração.”
Lao-Tse
“É justo que aqueles que recebem qualquer benefício, mesmo que insignificante, demonstrem gratidão.”
Cervantes
“Nenhum homem digno pedirá que lhe agradeça aquilo que nada lhe custa”.
Terencio
“Elogiar de coração é uma boa ação; é, de certa forma, participar dela”.
La Rochefoucauld
AD INFINITUM.
─”Até o infinito”─
KWEN KHAN KHU