Muito queridos amigos e amigas:
É muito grato fazer-lhes chegar a presente gravura, que foi desenhada e editada pelo artista flamengo Hieronymus Wierix ─1553-1577─. A gravura tem por nome…
…CRVDELITAS ─‘Crueldade’─
Antes de nada, temos que dizer que nessa obra artística está representada a crueldade de nosso Ego animal. A personificação feminina da crueldade está sentada em uma bolsa aberta da qual sai o grão. Na dita bolsa está escrito em latim CRVDELITAS e a palavra «Mathe, 7», referindo-se a Mateus, versículo 7, onde diz: «Não deis o santo aos cães nem atireis vossas pérolas diante dos porcos, não seja que as espezinhem e se virem e vos despedacem……».
A mulher de nossa gravura entrega um pão com um peixe a um cachorro e uma pedra com uma serpente a um menino pequeno. Isso nos remete àquela parábola que fala, nas Sagradas Escrituras, acerca de ser caritativos com o próximo.
A gravura assinala a hipocrisia das sociedades humanas, que dizem ser cristãs, mas sua fé não é demostrada com fatos.
Em nosso mundo, cada dia morrem ingentes quantidades de meninos em lugares como África e América Central, e muitas indústrias preferem jogar no lixo muitos alimentos sobrantes em lugar de repartir em lugares de nosso planeta onde impera a fome. Tais ações são feitas com o propósito egoísta de manter os preços dos mesmos na balança comercial dos povos.
Tudo isso é desolador e, mesmo que tudo o mundo o veja, ninguém sente o KAOM reclamando da injustiça cometida. Isso é devido, como bem dizia nosso Patriarca, o V.M. Samael Aun Weor: «Por estes tempos, a caridade se resfriou…».
Essa situação mundial levou a organizações não governamentais a criar grupos humanos que se dedicam a reclamar aos governantes de nossas sociedades um pouco de justiça para tratar de paliar a desordem que nos corrói as entranhas, muito apesar de querer parecer cidadãos civilizados, como a mulher de nossa ilustração.
Todo o mundo se ocupa muitíssimo do cuidado dos seus corpos, como bem expressou o bendito Melquisedeque na profecia que pronunciou em um monastério tibetano em uma das suas aparições, mas se esquecem obcecadamente das suas almas, essa é a crua realidade dos fatos.
Nessa obra artística, além do cachorro e da criança que já comentamos, também vemos uma árvore por trás da donzela, e sobre essa árvore aparece uma coruja que leva um coração em uma das suas garrinhas. Essa coruja está simbolizando e indicando a necessidade de permanecer como vigias em estado de guerra, e em relação a nosso tema, significa que devemos desenvolver a auto-observação para ativar a força do coração, assinalada pelo coração que leva entre suas garras a mencionada ave. Também isso nos fala acerca de compreender que não somente o Ego se refugia em nossos pensamentos, mas também em nossos sentimentos. O V.M. Samael chegou a dizer que o coração também é refúgio de muitos agregados… Por essa razão, nossa coruja está comendo dito coração, significando com isso que a auto-observação deve devorar também os sentimentos egoicos.
À direita, no fundo, vemos uma paisagem rural com uma mulher dando de comer aos porcos. Do mesmo jeito, observamos um rio com um moinho, ao tempo que apreciamos um monte e um vilarejo com suas torres. Tudo isso representa a vida horizontal dos pseudo seres humanos.
Algo muito estranho que chama nossa atenção é o fato de ver que emerge um falo da árvore que está por trás da donzela, ─anexamos detalhe─. Isso está aí para nos indicar que a árvore filosófica, o SER, tem sua energia, sua força, baseada na mesmíssima energia sexual; aí radica sua potencialidade.
Na parte inferior do desenho, mostra-nos um poema explicativo de seis linhas em holandês, latim e francês. Essa foi a preocupação do artista quando realizou essa obra, querendo que sua mensagem fosse entendida em vários idiomas.
O texto em latim:
«QUIS TANTUM RIGIDVS PATITVR QUI PERDE CVNCTA
QVAM POTIUS AEGRIS DONET EGENTIBUS ANTE,
EST SIMILIS CANIBVS PANEM QVI PRAEBET, ET EGRIS
SAXA, LOCO ET PISCIS MISERIS CUPIENTIBVS ANGVEM [.]
OMNIPOTENS GENITOR CONTRA, BONA MITIA DIGNE
NVNC PRESTARE MAGIS GAVDET POSCENTIBVS AEQVA».
O texto em francês:
«Quiconque est si maling de voir perdre le bien, plus fost que fecourir malades, souffreteux semblable est a celui qui le pain donne au chien pour poisson un serpent, la pierre au langoureux. Mais le Pere puissant bons dons a foison quand nostre demande est conforme a la raison».
Uma tradução em português:
‘Alguém [que seja] tão duro que tolera perder todos [os seus] bens antes de doá-los aos enfermos e indigentes, é parecido a quem oferece pão aos cachorros, mas aos enfermos, pedras e, em lugar de peixe, aos míseros desejosos [oferece] uma serpente.
Pelo contrário, o Progenitor Todo-poderoso goza em dar agora apropriadamente aos suplicantes mais dons dos [que seriam] equitativos’.
Uma parte de Mateus 7:
«O julgar aos demais:
7. Não julgueis, para que não sejais julgados.
2. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, sereis medidos.
3. E por que olhas a palha que está no olho de teu irmão e não vês a viga que está em teu próprio olho?
4. Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar a palha de teu olho, e eis aqui a viga em teu olho?
5. Hipócrita! Tira primeiro a viga de teu próprio olho e então enxergarás bem para tirar a palha do olho de teu irmão.
6. Não deis o santo aos cachorros, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos, não seja que as pisem, e se virem e vos despedacem.
A oração e a regra de ouro.
7. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á
8. Porque todo aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que chama abrir-se-á.
9. Que homem tem de vos que, se seu filho lhe pede pão, dar-lhe-á uma pedra?
10. Ou, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
11. Pois se vos, sendo maus, sabeis dar boas dádivas para vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?
12. Assim, todas as coisas que querem que os homens façam convosco, assim também fazei vos com eles; porque esta é a lei e os profetas».
Lembrai, caro leitor, que quando o bendito Mestre Samael estava conosco aqui na Terra, quis criar algo que ele chamou Instituto da Caridade Universal. Com esse instituto, o Mestre queria que todos os gnósticos ─instrutores ou companheiros de câmaras avançadas─ contribuíssem com um pequeno óbolo, ou simplesmente com sacolas de comida que deveriam ser repartidas entre os desamparados de nosso orbe. Dessa maneira, nós, os gnósticos, ajudaríamos de algum modo a erradicar o açoite da fome em nosso mundo. Porém, o que aconteceu com aquela majestosa ideia?
Resposta: Os mesmos «companheirinhos gnósticos» dedicaram-se a roubar os fundos que se estavam acumulando em dito instituto pelo bem dos famintos e finalmente aquele projeto morreu prematuramente devido à cobiça do Eu. Insólito, mas verdade!!
Parte de nossa auto-observação temos que dirigir para essas atrocidades que o Eu nos empurra a realizar quando nosso famoso trabalho psicológico interior é hipócrita, falso ou quimérico.
Entrego-lhes agora algumas frases para a reflexão:
«A caridade que somente se insinua por meio da esmola é um meio de conservar a miséria».
Jacques Delille
«O grande milagre de Jesus Cristo é, sem contradição, o reinado da caridade».
Napoleão
«Não tem melhor bolsa do que a caridade».
Cervantes
«Não enxerga o cego a mão que o socorre, quem vê é Deus».
Victor Hugo
«A caridade não é o patrimônio de uma escola, de uma religião nem de um povo determinado: é uma virtude profundamente humana».
Jose Zorrila
CONCORDIA DOMI, FORIS PAX.
─‘Concórdia em casa, paz fora dela’─.
KWEN KHAN KHU