A virtude unida é mais forte, Baro Urbigerus

“Virtus unita fortior” (A virtude unida é mais forte)

“Virtus unita fortior” (A virtude unida é mais forte) 850 480 V.M. Kwen Khan Khu

Amados leitores:

Tenho o prazer de enviar-lhe esta gravura que tem por título…

…VIRTUS UNITA FORTIOR
─ “A virtude unida é mais forte” ─

Virtus unita Fortior, A virtude unida é mais forte

Esta é a página de rosto de um livro publicado em Londres em 1690, intitulado Aphorismi Urbigerani — ou certas regras que demonstram claramente as três maneiras infalíveis de preparar o grande elixir ou circulatum majus dos filósofos: descobrindo o segredo dos segredos e detectando os erros dos químicos vulgares em suas operações, contidas em cento e um aforismos — às quais se acrescentam as três maneiras de preparar o elixir vegetal ou circulatum minus. Tudo deduzido da experiência, que nunca erra.

É de Baro Urbigerus — um escritor do século XVII —, que se definia como “um servo de Deus no reino da natureza” e cujo lema era Experto crede — “confie em um especialista”.

Esta gravura, caros leitores, remete-nos mais uma vez ao estudo do Sagrado Arcano A.Z.F. e suas concomitâncias alquímicas.

Esta imagem nos fala das virtudes da nossa matéria aquosa e das suas potencialidades, descritas pelo alquimista Baro Urbigerus.

Tentando compreender a presente gravura, devemos comentar que, primeiramente, apreciamos na parte superior uma serpente ao lado esquerdo e ao lado direito um dragão. A serpente é nosso Mercúrio, nossa energia criadora, e o dragão é nosso Fogo. Ambas as potências são a base da nossa futura PEDRA FILOSOFAL.

Ambas as criaturas carregam o símbolo astrológico da lua em suas cabeças porque, até que a Grande Obra seja concluída, elas são energias lunares que devem ser transformadas em energias solares.

O dragão, por sua vez, carrega ao seu lado um SOL para nos indicar que, no momento oportuno, ele se tornará um elemento ígneo.

A cauda da serpente termina em forma pontiaguda para nos indicar que se trata de uma força pujante, serpentina, aquosa. O dragão, embora tenha, como a serpente, uma lua em sua cabeça, tem sua cauda terminada em uma cruz. Isto é para nos mostrar que o poder ígneo é controlado com o hieróglifo da cruz, ou seja, com o cruzamento das potencialidades ígneas misturadas com as águas mercuriais. O dragão é alado porque o fogo sempre tende às alturas, assim é este elemento.

A árvore, amigos, é a árvore da CIÊNCIA DO BEM E DO MAL — a sexualidade — e por essa razão todo o drama retratado gira em torno dela.

A frase latina Nil sine vobis, “Nada sem vocês”, é pronunciada pela serpente para nos indicar que na natureza nada existe sem essas potencialidades.

Paralelamente, a outra frase que pronuncia o dragão: Per nos omnia, “Por nós todos”, nos enfatiza que nada se põe em marcha sem o auxílio do fogo.

No lado esquerdo da nossa representação, encontramos o deus Apolo e a deusa Diana. Apolo diz a Diana: “Pulchritudine tua captus sum” — “Fui cativado por tua beleza” — enquanto carrega um sol sobre a cabeça. Alquimicamente, diz-se que o sol — Enxofre — é atraído pela lua — Mercúrio. Esta é essencialmente a garantia para o início da Grande Obra.

Por sua vez, Diana responde a Apolo: Ulterius te vinciam — “Eu te prenderei ainda mais” —, porque quanto mais o Arcano A.Z.F. for praticado, mais Mercúrio se fundirá com Enxofre em nossa natureza.

À direita da imagem, vemos então ambas as criaturas — Apolo e Diana, Mercúrio e Enxofre — transformadas em uma só, formando um único SER. Apolo segura um sol, enquanto Diana carrega um arco na mão direita. Apolo carrega o sol na outra mão e uma lua na cabeça. Quando isso acontece, Apolo exclama: Regeneratio tua in mea potentia — “Sua regeneração está em meu poder” — pois a regeneração sexual alquímica só é possível através do fogo. Ao que Diana responde: Per te vivam — “Viverei por você” — pois o Mercúrio só dá frutos quando o fogo o mantém fecundado.

Vale ressaltar, caros leitores, que na imagem à esquerda Diana tem um arco nas mãos e a flecha desse arco foi substituída por uma cruz, que alguns interpretam como um hieróglifo ou símbolo de Gaia, a Terra.

Além disso, Apolo aparece carregando uma lira que ele apoia em uma de suas coxas. Não devemos esquecer que Apolo, ao simbolizar a harmonia na criação, obviamente aparece representado com um instrumento musical.

O autor termina sua gravura com um texto que descrevemos para nossos leitores:

“Nós expusemos com tanta clareza em nosso Cento e Um Aforismos todas as dificuldades, e ensinamos tão amplamente a teoria e a prática completa do Mistério Hermético, que qualquer amante engenhoso da química não só poderá compreender os escritos mais abstratos dos filósofos, mas também realizar qualquer experiência real que se espera no progresso de nossa Arte Celestial.

Por Dragão verde se entende nossa primeira matéria indeterminada, que compreende todos os nossos princípios. Mas este Dragão, ao copular com a serpente, se vê obrigado a submeter-se a ela, degradando-se de seu ser indeterminado para a produção do nosso segundo caminho. Apolo, com o sol em sua cabeça, e Diana, com a meia-lua, abraçando-se, mostram nosso terceiro caminho e a continuação do primeiro e segundo (fases do trabalho transmutatório).

Neste esquema, assim como em nossos aforismos, todos os pontos principais da fé e da religião, compreendidos nos volumes do Antigo e Novo Testamento, são exibidos misticamente. Daí se manifesta que a contemplação da natureza conduz verdadeiramente à compreensão dessas verdades celestes, pelas quais só podemos esperar alcançar o gozo da bem-aventurada imortalidade, a qual, como verdadeiro e último fim de nossa criação, todos os nossos esforços devem ser direcionados.”

Eu adiciono agora algumas frases para sua reflexão:

“Você não consegue ver o que você é; o que você vê é a sua sombra.”
Rabindranath Tagore

 

“O valor de um homem não é determinado pelo que possui, nem mesmo pelo que faz, mas é diretamente expresso pelo que é em si.”
Aristóteles

“Cada um é como Deus fez e ainda pior muitas vezes.”
Cervantes

“Deixar de ser não é igual a não ter sido.”
Humberto Díaz Casanueva

“Nós sabemos o que somos, mas não o que podemos ser.”
Shakespeare

DONA NOBIS PACEM.
─”Dê-nos a paz” ─

KWEN KHAN KHU